terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Na cabeceira: A Resposta

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Engraçado como tudo tem que ser a seu tempo nessa vida. Ganhei “A Resposta”, da escritora americana Kathryn Stockett, no Natal de 2010 de presente do maridão, mas, por algum motivo, ainda não o havia lido, apesar de eu mesma tê-lo pedido de presente por ter me interessado pelo tema. Acho que eu não estava preparada para essa história. Aliás, essa é uma grande verdade: às vezes, não estamos preparados para algum livro e a leitura simplesmente não flui. No caso de “A Resposta”, eu sequer havia tentado.

O livro estava no meu criado mudo desde o Natal de 2010, junto com outros tantos, os que estavam sendo lidos e os que estavam na fila de espera para leitura. Eis que, no mês passado, devido a problemas de saúde, uma licença médica me fez ficar uns dias em casa. Foi então que olhei para “A Resposta” e me senti pronta. Comecei a leitura e fui devorando página por página sem conseguir largar. E assim quase 600 páginas foram lidas em dois ou três dias.

“A Resposta” me emocionou, me fez rir, me fez chorar, me fez refletir, me indignou. Como o ser humano pode ser tão mesquinho, tão pobre, tão baixo? Como pode haver tanto preconceito no mundo? Sim, verbo no presente. A história se passa nos Estados Unidos, na década de 60, no Mississippi, mas, infelizmente, ainda hoje há resquícios daquele mesmo velho e nojento preconceito em nosso mundo, resquícios da tenebrosa segregação racial. Em escala bem menor, é verdade, mas há. Afinal, ainda hoje a cor da pele define o tamanho do salário. Ainda hoje vemos poucos negros nas faculdades, nas empresas e assim por diante.

Kathryn Stockett conseguiu escrever sobre um tema tão delicado de forma leve, sincera e humana; conseguiu mostrar, sem pieguice, que o amor triunfa sobre a dor, humilhações, injustiças, sobre o mal. Conseguiu mostrar as contradições e futilidades de uma época em que os negros não podiam utilizar o mesmo banheiro que os brancos e em que uma mulher nada valia se não tivesse um marido.

Skeeter, a jovem branca que desafiou todas as regras para defender aquilo em que acreditava, Aibellen e Minny, duas empregadas negras com histórias fantásticas para contar, são as três personagens principais do livro e são adoráveis. Porém, outra personagem, não menos importante e adorável, me cativou muito: Celia, pela ingenuidade, inocência e bondade.

O livro traz também referências históricas, como o assassinato do ativista negro Medgar Evers em 1963. O Mississippi, um dos estados americanos mais conservadores, possuía forte segregação racial. Negros não podiam frequentar os mesmos lugares que os brancos, tudo era separado: banheiros, escolas, bibliotecas e até os assentos nos ônibus. Negros eram espancados e assassinatos se ousassem se opor às regras sociais estabelecidas. A década de 60 foi também a época em que se fortaleceu a luta pela igualdade dos direitos civis com Martin Luther King e James Meredith se tornava o primeiro negro a ser admitido em uma faculdade. Nesse ambiente de tensão social, Stockett narra com delicadeza o que significava ser uma empregada negra no Mississippi, todas as dificuldades, todas as contradições. Mulheres que eram constantemente humilhadas, menosprezadas e que, ao mesmo tempo, criavam os filhos de suas patroas brancas com muito amor, mesmo sabendo que seria questão de tempo para que o preconceito também os dominasse.

Há pouco, soube que o livro havia sido adaptado para o cinema pelo diretor Tate Taylor, concorrendo inclusive ao Oscar (melhor filme, melhor atriz e melhor atriz coadjuvante). Todos somos sabedores de que dificilmente um filme faz jus ao livro que lhe deu origem. Além disso, li uma crítica não muito favorável à adaptação cinematográfica, mas, ainda assim, estava bastante curiosa para assistir ao filme, o que acabei de fazer. Concordo que o livro é muito superior ao filme. Notei pequenas alterações, mas nada que comprometa o todo. Em suma, gostei do filme, há boas interpretações e a reconstrução do cenário e da época me pareceu fidedigna, mas o livro é muito melhor.

Recomendo a leitura do livro, mas, caso você não seja afoito à literatura, pelo menos assista ao filme. Vale a pena.

Que tal dar uma olhada no trailer oficial do filme que no Brasil recebeu o título de “Histórias Cruzadas”?

Fonte do vídeo: Youtube

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